Os estudos, investigações ou dissertações no campo da agressividade no contexto escolar tomam predominantemente como objectivo de análise o “bullying”.

Bullying é um termo de origem inglesa utilizado para descrever actos de violência física ou psicológica, intencionais e repetidos, praticados por um indivíduo (bully) ou grupo de indivíduos com o objectivo de intimidar ou agredir outro indivíduo (ou grupo de indivíduos) incapaz de se defender.

Estudiosos aceitam geralmente que o bullying contém três elementos essenciais:
– O comportamento é agressivo e negativo;
– O comportamento é executado repetidamente;
– O comportamento ocorre num relacionamento onde há um desequilíbrio de poder entre as partes envolvidas.

As investigações realizadas em diferentes países demonstraram que o bullying nas escolas está difundido e é um problema internacional. Nas escolas portuguesas foi feito um levantamento da situação com crianças do 1º ao 6º ano de escolaridade obrigatória (6-12 anos) tendo-se verificado que as formas de vitimação mais frequentes foram a directa verbal (chamar nomes) e a directa física (bater, dar pontapés, empurrar). As formas de bullying experimentadas pelos dois sexos apresentaram características diferentes para as raparigas e rapazes, sendo estes mais agressores e vítimas, em particular naquelas que envolvem contacto corporal. As raparigas são mais sujeitas à exclusão social e aos rumores espalhados por outras crianças. O bullying ocorreu sobretudo no recreio.

A criança vítima (nomeada por 42% dos colegas) nunca sabia se no recreio teria um colega com quem brincar. Este facto tornava-a mais vulnerável aos ataques dos colegas no recreio. A criança agressora foi nomeada como tal por 65% dos colegas. As suas respostas ao bullying pautam-se por contra-ataques fortes e persistentes. Não apresenta remorsos da sua conduta porque sente que ela é justificada.

O conflito com as normas e valores vigentes, o desafio à autoridade, o conflito com outras gerações e a necessidade de ser diferente, são lugares comuns na descrição do período etário que é a infância/juventude. Estes são fundamentais ao nível familiar, na conquista de alguma autonomia por parte da criança e estabelecimento de relações de interdependência com os pais, caracterizadas por um equilíbrio entre vinculação e autonomia. A ruptura ou afastamento temporário são muitas vezes indispensáveis no prosseguimento destas mudanças, podendo este corte ser manifesto mais ou menos abertamente. A autonomia conquistada em termos instrumentais e emocionais vai permitir à criança um processo de exploração e questionamento do mundo e de si próprio, imprescindíveis na construção da sua identidade.

Ainda que compreensível a constatação de que muitos dos comportamentos perturbadores dos jovens são realizados em grupo, importa avaliar até que ponto está ou não a ocorrer uma pressão do grupo para a realização desses mesmos comportamentos. A necessidade da identidade de grupo, o medo de ser excluído ou criticado ou o risco de ver a sua auto-estima ser fortemente atingida, levam muitas vezes o jovem a um conformismo em relação ao seu grupo. A importância desse mesmo grupo enquanto espelho de si próprio, explica muitas das condutas do jovem como uma necessidade de aprovação ou de ganhar estatuto nesse mesmo grupo.

Por último, o desenvolvimento sócio-cognitivo revela-se ele próprio condicionante das estratégias que a criança adopta na resolução de conflitos, sendo neste período mais baseadas na força física do que na negociação, com uma reduzida empatia para com os sentimentos e pontos de vista do outro, capacidade que também será adquirida com a idade. A antecipação das consequências, traduzida também numa capacidade de adiar gratificações, que permite à criança uma descentração do aqui e agora em que habitualmente funciona, para uma visão mais a longo prazo dos acontecimentos e das suas implicações. Esta competência, em desenvolvimento no jovem, é na sua ausência apontada por alguns autores como sendo responsável por alguns desses comportamentos, nomeadamente de agressividade.

Em suma, o desenvolvimento psicológico encerra características ou incapacidades que têm expressão em comportamentos possíveis de serem enquadrados em qualquer um dos conceitos apresentados. Contudo, estes comportamentos não devem ser assumidos como uma predisposição ou afirmação de qualquer um desses conceitos, mas antes como um quadro desenvolvimental e portanto passageiro.