rimavera – O casamento das flores
Na Primavera , ouvem-se cantar os passarinhos em todo o lado.
Pássaros – Piu, piu, piu: casemos e teremos lindos filhinhos.
Nos, não ouvimos as flores, certamente porque não temos o ouvido
bastante apurado.
Mas, elas querem casar para ter, não ovos como as aves, mas
sementes de onde sairão as novas plantas.
Lúcia – Um casamento de flores deve ser bem bonito!
Sonha Lúcia, que já vê uma centáurea azul desposando uma rosa e
todo o cortejo dos amigos ricamente vestidos.
Ela vê o cravo com a papoila, a campainha com a margarida, o
miosótis com o malmequer, o lilás com a tulipa.
No entanto, as coisas não se passam bem assim; os noivados das
flores são muito secretos. É no interior da flor que eles se preparam e se
realizam.
Somente as abelhas, as vespas e as moscas sabem do segredo. E as
borboletas também!
Lúcia – Vamos lá, peludo jovem zangão, tu sabes como se casam as flores?
Zangão – Sim e sinto-me ainda surpreendido: esta manhã, vinha eu
valsando por cima do grande lírio que se ergue perto das roseiras
encarnadas e ouço vozes que saem do meio das pétalas.
Flores – Sim, sim, casemo-nos!
Dizem os estames e os pistilos.
O pistilo é aquela espécie de garrafa bojuda que parece ter um longo
gargalo e uma pequena rolha verde.
Os estames estão em volta do pistilo, debruçados do alto do longo
pecíolo, olhando para ele.
Pistilo – Tenho dentro do meu ventre pequenas bolinhas verde pálido,
semelhantes a pequenos ovos, que virão a ser sementes.
Estames – Nós temos nos nossos pequenos sacos um pó dourado, o pólen.
É com o pólen que sujamos o nariz das crianças que vêm cheirar os lírios!
Pistilo – O vosso pólen não serve para nada se vocês o guardarem nos
vossos sacos.
Estames – E as vossas pequenas sementes? Julgas tu que elas dão plantas
se nós não nos juntarmos?
Pistilo e estames – É preciso casarmo-nos! Mas como fazemos, se nos
encontramos presos?
Vento – Eu ajudo-vos.
E põe-se a balançar o grande lírio.
Estames – Obrigado, nós abriremos os nossos pequenos sacos.
O pó dourado, então espalhou-se sobre a boca do pistilo que é
pegajosa e o pólen cola-se e introduz-se suavemente pelo gargalo da
pequena garrafa.
Cada partícula amarela toca uma semente.
Lúcia – Agora, estas ementes só têm que amadurecer. Elas têm dentro de si
o gérmen duma pequena planta.
Mas, diz-me peludo, e quando não há vento?
Zangão – Ah! Olha que ainda não acabei a minha história. Já vais ver: eu
parto para outras flores…
Flores – Não há vento! Como vamos fazer para tocar os pistilos?
Moscas, vespas e abelhas – Nós ajudaremos!
Zangão – Juntei-me a eles e cada insecto escolheu uma flor. Penetro dentro
de uma campânula azul, esfrego-me contra o pólen e encho com ele a
minha ligeira penugem e ao sacudir-me no centro da flor, deposito o pólen
sobre o pistilo. Todos os insectos fazem a mesma coisa.
Depois, atordoados, moscas, moscardos e zangãos vão de planta em
planta, de jardim em jardim recolher o pólen.
Se bem que são por vezes os estames duma flor longínqua que levam
o seu pólen a um pistilo afastado.
Isto faz combinações maravilhosas e pode ser que plantas muito mais
belas venham a nascer destes casamentos inesperados.
É meio dia, o sol dilata o coração das rosas, dos lírios e das outras
flores, o jardim enche-se de perfumes e de zumbidos.
Ouve, pequena Lúcia, dir-se-ia que são as flores que murmuram e
que trauteiam alegremente:
Flores – Sim, casemo-nos!
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