Perfil de um aluno agressivo

A imagem estereotipada de um aluno agressivo é de alguém impopular, cobarde e que agride porque é inseguro. Contudo, a realidade é mais complexa, e sobretudo menos linear, já que não são muitos os alunos que agridem e admitem terem-no feito. Ao nível da investigação, este domínio das variáveis individuais é outro que se caracteriza pela falta de consenso entre os autores, sobretudo no que diz respeito à popularidade, ansiedade, auto-estima e autoconfiança (Flood, 1994; Olweus, 1984, in Reid, 1989; 1993, in Flood, 1994; Sephenson & Smith, 1987; in Flood, 1994).

Algumas características apontadas nos agressores são o reduzido auto-controlo (Olweus, 1984; in Reid, 1989) e a reduzida capacidade de concentração, ao mesmo tempo que são descritos pelos professores como tendo poucas qualidades atraentes (Sephenson & Smith, 1987; in Flood, 1994).
Na maioria dos casos, os rapazes são mais agressivos do que as raparigas, uma diferença notada na maioria das culturas no mundo inteiro, em quase todas as épocas. Os meninos acham-se especialmente inclinados a usar a agressão física, mas também mostram mais agressão verbal do que as meninas (Maccoby & Jacklin, 1974, 1980; Parke & Slaby, 1983).

Segundo Carlos Hilsdorf, a agressão não precisa ser explícita ou escancarada, ela pode ocorrer de forma verbal ou não-verbal. “Desconsiderar pontos de vista, não ouvir atentamente as pessoas, subestimar a sua inteligência e contribuições, interromper prematuramente as suas exposições, manter uma postura física ou expressão facial de superioridade são algumas entre tantas outras formas de agressão não verbal”.

Muito provavelmente a indisciplina no contexto escolar é irmã gémea de outros comportamentos de contestação juvenil; e a sua interpretação deve ser feita no sentido da busca de identidade que caracteriza muitas das acções infantis. Ser criança não pode significar se apático, aceitar sem discussão ou obedecer sem reflexão, embora tenha sido sempre assim, hoje em dia torna-se imperativo que o deixe de ser.

Segundo Daniel Sampaio (1996), para se combater a indisciplina a escola tem de analisar a forma como é exercido o seu controlo. A prevenção da disciplina está relacionada com a organização pedagógica da escola, ou seja, a disciplina e a indisciplina são um produto das relações pedagógicas estabelecidas pelos diversos protagonistas da realidade escolar.

Para se compreender o que é a indisciplina, a escola tem de entender um conjunto de comportamentos que considera aceitáveis, sob o ponto de vista pedagógico e social, para aquelas pessoas naquele contexto.

Também Perrenoud (1995), defende que a escola não pode ser um local onde se vai gratuitamente, precisa de ser um bem que se cultiva e que se enriquece participando na sua vida. Só o aluno interessado pode ser aluno disciplinado.

O conflito com as normas e valores vigentes, o desafio à autoridade, o conflito com outras gerações e a necessidade de ser diferente, são lugares comuns na descrição do período etário que é a infância/juventude. Estes são fundamentais ao nível familiar, na conquista de alguma autonomia por parte da criança e estabelecimento de relações de interdependência com os pais, caracterizadas por um equilíbrio entre vinculação e autonomia. A ruptura ou afastamento temporário são muitas vezes indispensáveis no prosseguimento destas mudanças, podendo este corte ser manifesto mais ou menos abertamente. A autonomia conquistada em termos instrumentais e emocionais vai permitir à criança um processo de exploração e questionamento do mundo e de si próprio, imprescindíveis na construção da sua identidade.

Ainda que compreensível a constatação de que muitos dos comportamentos perturbadores dos jovens são realizados em grupo, importa avaliar até que ponto está ou não a ocorrer uma pressão do grupo para a realização desses mesmos comportamentos. A necessidade da identidade de grupo, o medo de ser excluído ou criticado ou o risco de ver a sua auto-estima ser fortemente atingida, levam muitas vezes o jovem a um conformismo em relação ao seu grupo. A importância desse mesmo grupo enquanto espelho de si próprio, explica muitas das condutas do jovem como uma necessidade de aprovação ou de ganhar estatuto nesse mesmo grupo.

Por último, o desenvolvimento sócio-cognitivo revela-se ele próprio condicionante das estratégias que a criança adopta na resolução de conflitos, sendo neste período mais baseadas na força física do que na negociação, com uma reduzida empatia para com os sentimentos e pontos de vista do outro, capacidade que também será adquirida com a idade. A antecipação das consequências, traduzida também numa capacidade de adiar gratificações, que permite à criança uma descentração do aqui e agora em que habitualmente funciona, para uma visão mais a longo prazo dos acontecimentos e das suas implicações. Esta competência, em desenvolvimento no jovem, é na sua ausência apontada por alguns autores como sendo responsável por alguns desses comportamentos, nomeadamente de agressividade.

Em suma, o desenvolvimento psicológico encerra características ou incapacidades que têm expressão em comportamentos possíveis de serem enquadrados em qualquer um dos conceitos apresentados. Contudo, estes comportamentos não devem ser assumidos como uma predisposição ou afirmação de qualquer um desses conceitos, mas antes como um quadro desenvolvimental e portanto passageiro.
Berkovitz (1987) e Coslin (1987) referem-se especificamente ao carácter normativo destes aspectos num contexto desenvolvimental, afirmando o primeiro que a agressividade e os seus modos de expressão são aspectos cruciais na juventude devido ao seu significado desenvolvimental e consequências psicossociais.

Coslin salienta de igual modo a importância e significado desenvolvimentais da agressividade, e refere uma afirmação de um autor grego do séc. V a.C. que ilustra o carácter normativo do quadro apresentado:

“ os jovens de hoje adoram o luxo; não têm maneiras, ridicularizam a autoridade e não têm nenhum respeito pelos seus progenitores. Os filhos são verdadeiramente uns pequenos tiranos. Já não se levantam quando uma pessoa de idade entra na sala onde estão, contrariam os pais, estão à mesa como glutões e fazem a vida um inferno aos professores”.

Existem diferentes grupos de variáveis que podem ser utilizados para explicar os actos de agressividade. São eles:
As práticas educativas;
A herança genética;
A personalidade;
O estatuto na sociedade;
O meio;
A influência do grupo de pares;
O contexto imediato e estado motivacional;
A percepção das consequências da situação.

Com o modelo de Clarke (1977), Baker e Waddon (1989) defendem que este é bastante abrangente, pois abarca diferentes correntes teóricas frequentemente apontadas para a explicação e compreensão dos problemas comportamentais que salientam o contributo de factores individuais, do meio próximo ou da sociedade em geral.